Com o brasileiro se interessando mais por investir fora do País, um tipo de ativo está se tornando cada vez mais comum: os BDRs, ou Brazilian Depositary Receipts.
Mas o que são BDRs? Como esse ativo funciona? Quais os tipos que existem?
Neste artigo, vamos explicar tudo que você precisa saber sobre os BDRs.
BDRs: o que é?
Os BDRs são certificados de depósitos emitidos por uma instituição financeira no Brasil. Esses certificados representam ações de uma empresa listada nos Estados Unidos — na Bolsa Nasdaq ou na Bolsa de Nova York, por exemplo.
O objetivo dos BDRs é permitir que um brasileiro invista nessas empresas sem ter que abrir uma conta em uma corretora americana — facilitando a vida e dando acesso a empresas que muita gente não teria como investir de outra forma.
Com os BDRs é possível investir em companhias como a Amazon, Netflix e Google direto da corretora brasileira.
Na prática, o BDR é um título lastreado em uma ação americana. Para isso, uma instituição financeira comprará uma ação da empresa para cada BDR que ela colocar em circulação.
O depósito dessas ações é feito em uma instituição fora do País e bloqueadas, servindo apenas como o lastro do título.
Sendo assim, ao investir em um BDR o investidor não está se tornando de fato acionista da empresa americana. Ele está se tornando detentor de um título emitido no Brasil que tem como lastro uma ação dessa companhia.
Leia mais >> Bull market vs. bear market: entenda essas expressões do mercado
Os tipos de BDRs
Existem quatro tipos diferentes de BDRs: os BDRs não patrocinados nível I, e os BDRs patrocinados de nível I, II e III.
As diferenças entre elas são bem técnicas, mas vale a pena entender como cada uma delas funciona.
BDR não patrocinado nível I
Os BDRs não patrocinados nível I são aqueles cuja emissão dos títulos não foi feita por iniciativa da empresa, e sim por uma instituição financeira que tem interesse em disponibilizar essas ações no Brasil.
Nesse caso, é a instituição que fica responsável por transmitir as informações sobre a empresa aos investidores e por cuidar para que o programa de BDRs funcione de forma correta.
Hoje, a maioria dos mais de 500 BDRs listados no Brasil são desse tipo.
BDR patrocinado nível I
Os BDRs patrocinados são emitidos em conjunto com a empresa. Nesse caso, a companhia normalmente tem interesse de ter alguma exposição ao mercado e aos investidores brasileiro e contrata uma instituição financeira para criar seu programa de BDR.
No nível I, o BDR não precisa de registro na CVM. Por conta disso, há uma restrição a negociação apenas aos mercados de balcão não organizados ou a segmentos específicos do mercado de balcão organizado e da Bolsa.
O BDR de nível I também só pode ser levado ao mercado por meio de ofertas de esforços restritos, nas quais apenas 50 investidores institucionais podem comprar os papéis.
BDR patrocinado nível II e III
Já os BDRs patrocinados nível II e III exigem o registro na CVM e podem ser negociados na Bolsa de Valores.
Como o BDR nível II e III precisam ser registrados na CVM, o nível de exigência é muito maior.
É preciso, por exemplo, apresentar uma série de documentos em português para a CVM — incluindo a demonstração de resultados e de fluxo de caixa, e todos os fatos relevantes e comunicados que a empresa divulga em seu mercado de origem.
O BDR de nível II só pode ser lastreado em ações americanas que já fizeram seu IPO e que já estão listadas na Bolsa.
Já o BDR de nível III pode ser emitido de forma simultânea ao processo de IPO das companhias nos Estados Unidos.
Um exemplo recente de um IPO nos EUA com emissão simultânea de BDRs de nível III foi o do Nubank — que depois tomou a decisão de cancelar o seu registro de companhia aberta na CVM e ficar aberta apenas nos EUA.
BDRs vs. ação americana
Uma das grandes discussões entre investidores recentemente é se vale mais a pena investir em BDRs ou comprar a ação americana diretamente.
Até pouco tempo, essa discussão não fazia sentido porque não existiam corretoras que permitissem que os brasileiros investissem diretamente em ações brasileiras.
Sendo assim, a única opção de grande parte dos brasileiros era comprar BDRs mesmo.
Com o surgimento de corretoras como a Avenue e Nomad, esse cenário mudou, tornando o debate necessário.
Essa escolha (BDRs ou ação direta) precisa ser feita levando vários fatores em consideração.
Para te ajudar, vamos elencar as principais diferenças entre investir por BDRs ou ações diretas.
Uma das principais é como o investimento será feito. Para investir em ações diretas você precisa abrir uma conta em uma corretora americana, e fazer o processo de câmbio, enviando dólares para lá, e pagando uma taxa por essa transação.
Já para investir em BDR tudo é feito em reais e direto na sua própria corretora brasileira — gerando uma facilidade enorme.
Outra questão para levar em conta é a tributação. As BDRs pagam impostos de 3% a 5% sobre os dividendos recebidos (além do imposto já cobrado nos EUA).
As ações não têm esse custo a mais e tem uma isenção de imposto de renda no ganho de capital nas vendas de ações no valor de até R$ 35 mil por mês.
Outra vantagem de investir diretamente nas ações americanas é que você terá acesso a todo o mercado americano.
Para se ter uma ideia, existem mais de 6.000 empresas listadas nas Bolsas americanas, enquanto existem cerca de 500 BDRs no Brasil.
Os tickers das BDRs
Assim como em uma ação brasileira, para investir em uma BDR é preciso saber o ticker (o código) que esses ativos negociam na Bolsa.
Enquanto os tickers das ações brasileiras terminam normalmente com 3 (para as ações ordinárias), 4 (para as preferenciais) e 11 (para as units), as BDRs também tem números dependendo do nível.
As BDRs não patrocinadas têm o número 34 ou 35 no final, ainda que o mais comum seja o 34 mesmo. Já as BDRs patrocinadas de nível I, II e III têm os números 31, 32 e 33 no final, depois de quatro letras.
Exemplos:
Apple — AAPL34
Amazon — AMZO34
Banco Inter — INBR32
Stone — STOC31
Leia também >> Como investir na Bolsa de Valores: o guia completo
