Na hora de avaliar se a ação de uma empresa está cara ou barata na Bolsa de Valores, os analistas usam diversos indicadores e metodologias diferentes. Mas um dos mais conhecidos e utilizados é o preço/lucro (o múltiplo P/L).
Esse indicador mostra basicamente quanto os investidores estão dispostos a pagar por cada R$ 1 de lucro gerado pela empresa. Se uma empresa estiver negociando na Bolsa a um preço/lucro de 15 vezes, por exemplo, isso significa que os investidores estão dispostos a pagar R$ 15 por cada R$ 1 em lucro gerado pela companhia.
Outra forma de enxergar esse múltiplo: ele mostra em quantos anos um investidor que hipoteticamente comprasse 100% da empresa levaria para recuperar o seu investimento apenas com os lucros dessa companhia — assumindo que ela não crescesse nos anos seguintes.
O P/L é muito utilizado porque permite comparar uma empresa com outras companhias do mesmo setor — ou o múltiplo atual da empresa com a sua própria média histórica, dando um indicativo importante se a empresa está cara ou barato.
Como calcular
Calcular o P/L é relativamente simples: basta dividir o preço que a ação está negociando hoje na Bolsa pelos lucros por ação que a empresa gerou nos últimos 12 meses.
Uma empresa que negocia a R$ 10, por exemplo, e lucrou R$ 2 por ação no acumulado dos últimos 12 meses, teria um P/L de 5 vezes.
Não existe um número mágico para dizer se a empresa está barata ou não olhando o P/L — e vários outros fatores vão interferir e precisam ser levados em conta nessa análise.
Mas, naturalmente, quanto mais baixo for o P/L maior é a chance da empresa ser uma barganha.
Um ponto importante é que o P/L pode variar muito de setor para setor — e, mesmo de um mesmo setor, as empresas podem ter P/L muito diferentes dependendo de seu estágio de maturidade.
Uma companhia que ainda está mais no início e que cresce muito o seu lucro todos os anos poderá negociar com um P/L mais alto porque os investidores já projetam esse forte crescimento na frente.
Já uma empresa madura, com poucas perspectivas de crescimento, tende a negociar com um P/L menor.
Preço/lucro futuro
Apesar do P/L ser normalmente calculado com base no lucro dos últimos 12 meses reportados, muitos analistas gostam de olhar também o P/L futuro — principalmente em empresas de muito crescimento, cujo lucro tende a subir muito de um ano para o outro.
Nesse caso, os investidores calculam o P/L com base em suas estimativas para o lucro da empresa no ano seguinte ou nos próximos 12 meses.
Outra opção é pegar o consenso das projeções de analistas de plataformas especializadas em dados do mercado de ações, como a Bloomberg ou a Refinitiv.
Naturalmente, o mais problema do preço/lucro futuro é que as estimativas dos analistas para os lucros das empresas podem muitas vezes estar sobre ou subavaliadas — dando uma visão errada sobre o valuation da companhia.
Da mesma forma, o P/L considerando o lucro dos últimos 12 meses também pode ter problemas — já que o resultado passado da empresa não necessariamente é um indicativo fiel de seu resultado futuro.
Apesar de ter falhas, como qualquer outro indicador, calcular o P/L de uma ação pode ser uma excelente forma de ter um indicativo se aquela ação está cara ou barata — ajudando muito os investidores em sua análise.
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Preço/lucro do Ibovespa
Assim como o múltiplo preço/lucro pode ser usado para analisar se uma ação está cara ou barata, ele também pode ser utilizado para avaliar se a Bolsa de Valores como um todo está cara ou não.
Para isso, os analistas pegam o valor de mercado de todas as empresas que compõem determinado índice (por exemplo, o Ibovespa no Brasil) e divide esse valor pelo lucro somado dessas empresas nos últimos 12 meses ou nos próximos 12 meses.
Com esse número em mãos, os analistas comparam o P/L atual do Ibovespa com os números históricos.
Se o P/L estiver acima da média histórica isso pode indicar que a Bolsa está cara. Se estiver abaixo, que ela estava barata.
É possível também comparar o P/L atual com momentos de crise econômica, para ver se a Bolsa está negociando abaixo ou acima dos níveis que estava nesses momentos negativos.
Expectativas dos investidores
O múltiplo preço/lucro também é muito interessante porque mostra a expectativa dos investidores em dado momento em relação a uma ação.
Tipicamente, os investidores estão esperando um crescimento de lucro muito mais robusto de empresas que negociam com um P/L alto do que de empresas que negociam com um P/L baixo.
Por isso, é bem mais comum ver empresas do setor de tecnologia negociando com um P/L alto — já que esse é um setor de alto crescimento.
Nessa óptica, investir em empresas com P/L alto não é necessariamente um negócio ruim.
Imagine o caso de uma empresa que negocia com um P/L de 40 vezes e que lucrou R$ 1 por ação nos últimos doze meses.
Se no ano seguinte o lucro dessa empresa multiplicar por 3 vezes, passando a R$ 3 por ação, e o preço da ação continuar o mesmo, o P/L dessa empresa já cairia para cerca de 13 vezes — um patamar muito mais razoável.
Empresas sem lucro
Um detalhe importante para lembrar é que o P/L só pode ser calculado em empresas que dão lucro.
Em companhias em estágios mais iniciais, como startups, e que ainda estão dando prejuízo, esse múltiplo não pode ser usado, já que não se tem o denominador.
Nesses casos, os investidores costumam usar outros múltiplos como o preço/vendas — que calcula o quanto os investidores estão dispostos a pagar por cada R$ 1 gerado em faturamento pela companhia.