O Brasil vive há dois anos uma verdadeira seca de IPOs, as ofertas públicas iniciais de ações, que permitem que uma empresa passe a ser negociada na Bolsa de Valores.
Desde o boom de ofertas entre os anos de 2020 e 2021, não houve nenhum IPO no Brasil, com o mercado ficando reticente em relação a listagem de novas empresas na B3.
Agora, no entanto, com a melhora do mercado e a queda das taxas de juros, muita gente começa a apostar que 2024 pode ser o ano da retomada dos IPOs.
Essa aposta tem a ver com alguns fatores: além da melhora conjuntural, há uma demanda reprimida muito grande de empresas que queriam entrar na Bolsa nos últimos anos mas que não conseguiram porque não havia uma janela de mercado.
A expectativa entre os investidores é que os IPOs voltem a partir do final do primeiro semestre. Até lá, é provável que aconteçam vários follow-ons, as ofertas subsequentes de ações, que ocorrem quando uma empresa já é listada e quer levantar mais recursos.
A expectativa para os IPOs de 2024 é que quem vai puxar a fila são empresas geradoras de caixa e com modelos de negócio sólidos e consolidados.
Isso tem a ver em parte com os resultados da última safra de IPOs, em que muitas empresas de tecnologia estrearam na Bolsa e depois acabaram tendo performances muito ruins (vamos aprofundar nesse tema mais abaixo).
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Os IPOs em 2024
Com base em reportagens dos últimos meses e em declarações das próprias empresas, separamos algumas das principais apostas do mercado para os IPOs de 2024.
Algumas delas são farmacêutica Cimed, a cimenteira CSN Cimentos e a Compass, uma empresa de distribuição de gás controlada pela Cosan.
Outra candidata é a Nadir Figueiredo, que é uma fabricante de vidros e que já disse publicamente que tem planos de fazer um IPO.
O setor de energia também tem algumas empresas buscando listar suas ações na Bolsa, incluindo a 2W Ecobank, uma comercializadora de energia, que também já declarou seu interesse em fazer IPO e que até já contratou bancos para isso.
Outra empresa de energia na lista de candidatas é a CTG Brasil, subsidiária da estatal chinesa China Three Gorges no Brasil.
Um setor que também tem atraído a atenção de investidores e pode ser um forte candidato para um IPO em 2024 é o de saneamento.
Nesse setor, as principais apostas são a Aegea e a Iguá Saneamento, que são as duas maiores empresas privadas desse mercado e que adquiriram concessões importantes de saneamento nos últimos anos.
O último boom de IPOs
O último IPO no Brasil aconteceu em 2021, um ano que bateu um recorde histórico de ofertas públicas, com 52 ofertas. Nessa safra, estrearam na Bolsa empresas como Intelbrás, Petroreconcavo, GetNinjas, Espaçolaser, Raízen e CSN Mineração.
No total, foram captados R$ 65 bilhões. O recorde anterior havia ocorrido em 2007, quando haviam sido levantados R$ 55 bilhões em ofertas públicas iniciais.
2020 também foi um ano forte em IPOs: foram 28 novas empresas entrando na Bolsa com ofertas que juntas somaram R$ 43 bilhões.
Nessa safra, fizeram IPO empresas de tecnologia como a Locaweb e a Méliuz, a rede de farmácias D1000, e a construtora Moura Dubeux.
Como esses IPOs performaram
Apesar do sucesso na captação de recursos, a grande maioria dos IPOs das últimas safras — 2020 e 2021 — performaram muito mal desde a oferta.
Algumas das piores performances foram as da Enjoei, Espaçolaser e Mobly, que caíram cerca de 80%, 95%, e 92% desde a estreia na Bolsa, respectivamente.
Outras ações que performaram muito mal foram a ClearSale, Getninjas e Infracommerce, com quedas de 85%, 73% e 88%.
Foram poucas as ações que performaram bem, e algumas das raras exceções foram a Vamos, de aluguel de caminhões, a 3R Petroleum, uma petroleira, e a Intelbras, de venda de equipamentos de segurança.
Como fica claro, empresas de setores mais tradicionais da economia.
O resultado dos IPOs das últimas safras é um alerta para o investidor de que entrar em IPOs pode ser arriscado, e que, pelo menos olhando o histórico, a maior chance é de perder dinheiro.