Peter Lynch: o investidor que influenciou gerações

peter lynch

Peter Lynch é um dos gestores de ações mais conhecidos e bem sucedidos do mundo.

O americano geriu por décadas o Fidelity Magellan Fund, um fundo que investia apenas em ações americanas e que deu um retorno espetacular.

De 1977 até 1990, o fundo rendeu mais de 2.700%, superando com folga os principais benchmarks do mercado, como o S&P 500. 

Nesse período, a rentabilidade média anual do fundo foi de cerca de 29%, em comparação a apenas 15% do S&P 500. Para se ter uma ideia do fator multiplicador dessa rentabilidade, se alguém tivesse investido US$ 1 mil no fundo em 1977 teria saído com US$ 28 mil treze anos depois, quando Lynch deixou a gestão do fundo. 

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Lynch também ficou conhecido pelos livros que escreveu e por seus ensinamentos sobre investimentos, que influenciaram diversas gerações de investidores de valor. 

Um dos livros mais famosos de Lynch é “O Jeito Peter Lynch de Investir”, que resume sua visão sobre os investimentos. 

Uma de suas frases mais famosas sobre investimentos é que “você precisa conhecer o que você investe” — um ensinamento que parece simples, mas que não é seguido por boa parte dos investidores iniciantes. 

A biografia de Peter Lynch

peter lynch
Imagem: Divulgação/Manual do Financês

Peter Lynch nasceu em 19 de janeiro de 1944 em Newton, Massachusetts, nos Estados Unidos. Aos 10 anos, ele sofreu o trauma de perder seu pai para um câncer, tendo sido criado quase a vida inteira apenas por sua mãe.

O interesse de Lynch pelo mercado de ações surgiu desde cedo. Aos 11 anos, ele começou a trabalhar em um campo de golfe como carregador de tacos. Esse campo era frequentado por vários executivos e investidores, que frequentemente conversavam sobre o mercado de ações.

Ouvindo essas conversas, o jovem Lynch começou a despertar seu interesse pela Bolsa de Valores.

Na hora de escolher a faculdade, naturalmente ele optou pelo curso de finanças. Lynch estudou na Boston College, onde conseguiu uma Bolsa de Estudos parcial para bancar o custo da faculdade. 

O restante do valor ele pagou com seu trabalho de carregador de tacos e com os retornos de um de seus primeiros investimentos bem sucedidos. Lynch investiu numa empresa de frete aéreo chamada Flying Tiger, e teve um ótimo retorno com o investimento.

O retorno, no entanto, não foi pelos motivos que ele esperava. Na época, ele investiu US$ 100 nas ações depois de estudar o setor e ver potencial de crescimento. 

O que aconteceu, na prática, foi que a ação subiu por conta do início da Guerra do Vietnã, já que a Flying Tiger passou a transportar as tropas americanas para o Vietnã — um acontecimento que Lynch jamais teria previsto em sua análise. O resultado foi que a ação subiu dez vezes. 

Início da carreira

O investidor se formou na Boston College em 1965 e já no ano seguinte conseguiu um trabalho de verão no Fidelity, uma das maiores gestoras de recursos dos EUA.

Em 1968, ele também fez um MBA na Wharton School of Business, da Universidade da Pensilvânia, antes de conseguir seu primeiro emprego fixo aos 25 anos.

Peter Lynch começou sua carreira na Fidelity como analista da indústria têxtil e de metais. Uma curiosidade é que, durante seus anos de carregador de tacos de golfe, ele trabalhou para o CEO da Fidelity — o que provavelmente o ajudou a conseguir o emprego. 

Pouco tempo depois de entrar na Fidelity, Lynch já assumiu a gestão de um dos fundos da gestora: o Magellan Fund, que era um pequeno criado em 1963 e que investia apenas em ações americanas. 

Nos treze anos que ficou à frente do fundo, Lynch teve um dos melhores retornos da indústria, como detalhamos um pouco acima. 

Lynch não está mais à frente de nenhum fundo da Fidelity, mas continua como vice-presidente do braço de consultoria da gestora e como membro do conselho de administração. Nas últimas décadas ele também foi o responsável por ensinar e treinar boa parte dos analistas da gestora. 

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Os ensinamentos de Peter Lynch

Para obter esses retornos, Lynch seguiu uma filosofia relativamente simples. 

Ele olhava diversas métricas de valor para avaliar se uma ação está cara ou barato — como o price to earnings growth (conhecido como PEG ratio), que ajuda a avaliar o múltiplo de uma empresa considerando seu crescimento potencial — e acreditava que era fundamental investir apenas em empresas que se conhecia a fundo.

Lynch também é um defensor do investimento de longo prazo, assim como boa parte dos investidores de valor.

O investidor detalhou sua forma de enxergar os investimentos e o mercado em três livros que publicou junto com o jornalista John Rothschild. 

O mais famoso deles é One Up on Wall Street (traduzido para o portugues como O Jeito Peter Lynch de Investir). Ele também é coautor do livro Beating the Street, de 1993, e Learn to Earn, de 1995. 

Os três são focados no investidor comum, de varejo, e são ótimas leituras principalmente para quem está começando a investir e quer ter uma noção básica de fazer bons investimentos.

Alguns dos ensinamentos de Lynch é que o investidor deve investir em empresas que ele conheça e saiba entender o balanço. Sem esses conhecimentos básicos do negócio, ele acredita que é melhor não comprar aquela ação. 

Ele disse certa vez que as pessoas são cautelosas ao comprar uma casa, um carro ou até mesmo uma geladeira. Pesquisando horas para economizar algumas centenas de dólares. “Mas elas são capazes de colocar 5 mil dólares ou 10 mil dólares em uma ideia maluca de investimento que ouviram no ônibus. Isso é especulação pura.”

Lynch defende que o investidor tem que ser capaz de explicar a si próprio e a outros em poucos minutos os motivos que o levaram a investir naquela ação e a tese de investimento por trás (o que precisa para a empresa ter sucesso e quais os riscos).

A saída do Fidelity

Na época em que deixou a gestão do Magellan Fund, Peter Lynch disse que tomou a decisão para passar mais tempo com sua família e para se dedicar a iniciativas pessoais. 

O investidor se aposentou aos 46 anos, com uma qualidade de vida excelente dado o retorno dos investimentos que teve.

Em uma entrevista que deu ao The Wall Street Journal, Lynch disse que estava trabalhando todos os sábados e que tinha começado a trabalhar também nos domingos de manhã, antes de ir para a Igreja.

Ele disse na entrevista que durante toda sua carreira sempre disse que não levava trabalho para casa, mas que isso tinha começado a acontecer.

Ao deixar o Magellan, Lynch também passou a se dedicar à filantropia, um tema que sempre teve importância em sua vida. Em 1988, ele e sua mulher já haviam criado a Fundação Lynch, que atuava em temas ligados à educação, cultura e saúde.