Beto Sicupira: o bilionário por trás da Ambev e Americanas

beto sicupira

Carlos Alberto Sicupira sempre foi conhecido por sua trajetória de sucesso à frente de vários negócios e da 3G, a holding de investimentos que ele fundou junto com Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles. 

O trio investiu juntos em negócios como a Ambev, Lojas Americanas e Kraft Heinz, amealhando uma das maiores fortunas do Brasil.

Para se ter uma ideia, apenas Beto Sicupira (como ele é conhecido) tem um patrimônio estimado em cerca de R$ 40 bilhões.

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Mas, nos últimos meses, Beto também chamou a atenção por seu envolvimento na Americanas, que, em janeiro de 2023, descobriu ‘inconsistências contábeis’ em seu balanço de mais de R$ 20 bilhões.

Beto é o presidente do conselho de administração da Americanas, um cargo que ocupa há anos. Na posição, ele sempre teve um papel decisivo nas decisões estratégicas do negócio.

Mas quem é Carlos Alberto Sicupira? Qual sua história de vida?

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A biografia de Beto Sicupira

beto sicupira
Imagem: Manual do Financês

Beto Sicupira nasceu em 1948 na cidade do Rio de Janeiro. Filho de uma dona de casa e de um funcionário de carreira do Banco do Brasil e do Banco Central, Beto sonhava em sua adolescência em entrar para a marinha, já que ele amava o mar.

Não deu certo, e ele acabou trabalhando em um negócio de carros usados com um amigo, ainda bem jovem.

Na sequência ele largou a revenda de carros para criar um negócio de revenda de calças jeans que ele comprava nos Estados Unidos. Com 17 anos, ele se emancipou de seus pais para poder comprar, junto com um amigo, uma carta-patente de uma distribuidora de valores. 

Beto entrou na faculdade um ano depois, para estudar administração de empresas na UFRJ. Quando estava na faculdade, ele teve uma breve experiência no setor público: foi trabalhar em vários órgãos públicos, incluindo o Departamento Nacional de Estradas de Ferro e o Porto do Rio de Janeiro.

Durou pouco e aos 20 anos Beto fez outra empreitada no mundo financeiro. Comprou, com alguns outros sócios, uma outra distribuidora de valores. 

Beto passou quatro anos nesse negócio, antes de tomar uma decisão que mudaria a trajetória de sua vida.

Beto Sicupira entra no Garantia

Em 1973, Beto Sicupira aceitou um convite de Jorge Paulo Lemann — que ele conheceu praticando pesca submarina — para entrar no Banco Garantia, um dos principais bancos de investimento brasileiros da época (equivalente ao que o BTG é hoje).

Foi no Garantia onde Beto se aproximou mais de Marcel Telles e Lemann, o trio que depois fundou a 3G.

Os três sempre foram considerados no mercado como ‘deuses’ do capitalismo brasileiro pelo sucesso que tiveram em seus negócios. Além de terem comandado o Garantia, os três compraram a Brahma e transformaram ela na maior cervejaria do mundo, além de terem feito um ótimo negócio na Lojas Americanas (apesar do desfecho que a história teve). 

Com a 3G, eles investiram também em empresas como Burger King, Tim Hortons, Popeyes e Kraft Heinz. Na última, eles investiram junto com Warren Buffett, um dos maiores investidores do mundo. 

O caso Americanas

Beto Sicupira, Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles compraram a Lojas Americanas em 1982, quando pagaram apenas R$ 24 milhões por 70% da empresa na Bolsa. 

O investimento na Americanas foi feito com o caixa do Garantia, já que o banco estava muito capitalizado nessa época e os sócios não queriam distribuir tudo em dividendos e bônus.

O negócio foi excelente para o trio.

Na época, a Americanas valia cerca de R$ 30 milhões na Bolsa e, apenas os seus imóveis, eram avaliados em mais de R$ 100 milhões. 

Ou seja, no pior cenário o Garantia lucraria com a venda dos imóveis. 

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Para tocar o negócio, o Garantia escolheu Beto Sicupira, que largou o banco para se dedicar 100% à Lojas Americanas. Beto começou no conselho, onde aprendeu tudo sobre a empresa, e depois assumiu o comando como CEO.

Assim que assumiu, Beto demitiu mais de 6 mil pessoas, cerca de 40% dos funcionários, além de cancelar o plano da antiga diretoria de construir uma nova sede na Barra da Tijuca. Ele também mudou o sistema de remuneração variável dos executivos, que era extremamente fácil, permitindo que mesmo com resultados ruins eles ganhassem bônus. 

O resultado: poucos meses depois, a ação da Americanas havia se valorizado de forma brutal.

Beto Sicupira funda a São Carlos

Beto Sicupira também foi o responsável pela fundação da São Carlos, uma empresa do setor imobiliário que hoje tem um portfólio de imóveis de mais de R$ 3 bilhões.

A ideia da São Carlos surgiu dentro da Americanas. A rede tinha dezenas de lojas próprias, onde ela não pagava aluguel, e a ideia de Beto foi colocar esses imóveis em uma nova empresa. 

A São Carlos começou apenas gerindo esses imóveis da Americanas, mas cresceu muito ao longo das últimas décadas.

Hoje, os imóveis da Americanas respondem por menos de 10% do portfólio da companhia.

A fundação da 3G

Beto Sicupira, Jorge Paulo Lemann e Macel Telles só fundaram a 3G em 2004, depois de já terem feitos negócios de sucesso no Brasil: além da Americanas, os três investiram juntos na Brahma, que deu origem à Ambev após a compra da Antarctica. 

A ideia com a 3G era investir em empresas fora do Brasil. Um desses negócios foi o Burger King, que eles compraram o controle em 2010 por US$ 4 bilhões. Na sequência eles investiram na Restaurant Brands Internacional, que era dona do Tim Hortons e Popeyes. 

Mas talvez a transação mais emblemática da 3G — e que mostrou a importância que o trio adquiriu no âmbito global — foi a compra da Kraft Heinz em 2013, que foi feita em parceria com Warren Buffett.

Eles primeiro compraram a Heinz e depois fundiram a empresa com a Kraft, tentando replicar o negócio que fizeram no setor de bebidas. 

As ‘inconsistências contábeis’ na Americanas

A Americanas foi um excelente negócio para o trio por décadas, crescendo ano após ano e se tornando uma das maiores varejistas do Brasil.

No ano passado, a Americanas valia mais de R$ 10 bilhões na Bolsa e tinha cerca de 1.700 lojas espalhadas pelo Brasil.

Tudo ia bem, até que em janeiro de 2023 a companhia divulgou ‘inconsistências contábeis’ de mais de R$ 20 bilhões em seu balanço.

Ainda não está claro o envolvimento (ou não) de Beto Sicupira no que está sendo considerado uma das maiores fraudes contábeis do mercado, mas sua reputação certamente já foi afetada.